David Fincher é um diretor de transição nos dias atuais.

Dita como aposta certa pra concorrer ao Oscar de direção, perdeu a estatueta para o diretor de “O Discurso do Rei” Tom Hooper que até então era apenas um coringa nas cartas apostadas.

Mas a carreira deste diretor oscila em filmes pra uma geração pop, encaminhando pra uma estética mais classica. A crença de que muitos tinham na cerimônia do Oscar, desconcertou na postura da Academia. É bem verdade as observações feitas pelo critico mineiro Marcelo Miranda que citou em seu twitter : “Na ressaca de uma madrugada, fico aqui pensando como uma instituição premia “Guerra ao terror” num ano e “O discurso do rei” no seguinte.” A este comentário, foi respondido por Filipe Furtado com”Slumdog Millionaire no ano anterior.” denotam um espanto.

Alexandre Desplat e David Fincher

Somente nesta simples troca de frases, notou-se uma observação de postura política oscilante de um juri que estranhamente dá um prêmio de direção para Martin Scorsese de maneira tardia, simplesmente porque seu cinema se pasteurizou. E vemos Fincher sentado no seu banco solitário, aguardando que seus filmes “mais comportados” atinjam a sensibilidade de juris, não que faça filmes pra agradar juri, a ação aqui é muito mais conjunta de produtoras e empresas que confiam a Fincher, um trabalho de maior erudição nesta nova linguagem classicista.

É distante a estética de seus primeiros filmes envoltos a alguns video collections que fez pra Michael Jackson, Aerosmith e Madonna dos seus três últimos filmes como foram Zodíaco (um dos meus favoritos), “O curioso caso de Benjamin Button” e “Rede Social” que foram antecedidos por outros vídeos musicais que também mudaram, por mais que o universo de vídeo-clipe seja experimental, seu cinema tem se enveredado pra uma padronização arrumadinha.

Aos seus filmes anteriores de sucesso com o público jovem como foi Se7en e Clube da Luta, muitos alunos que tenho e jovens entusiastas de cinema, se questionam do porque a justiça tardia não o contemple com prêmios, já que sempre endosso a importância mercadológica de investimento aos diretores “bola da vez” para o mercado de cinema que fala diretamente com o público jovem. Sobra espaço inclusive para piadas como “Fincher já tentou ser mais classico e não ganhou nada. Que volte ao seu cinema visceral” –  clamariam, mas o sistema que vive, não o coloca em política de autores independentes. Ainda acho um milagre ver Gus Van Sant (a este sim, meus votos de premiação americana), Mallick (diretor de cabeceira) ou David Lynch no banco dos que ganharam “nominees” e sabemos que este não é o universo ideal para eles, por mais que “Autores” do cinema americano tenham o rabo preso com o sistema mercadológico. Somente Fincher mesmo parece a cada dia estar mais perto da premiação que seus defensores tanto debatem comigo.

Mas confesso sentir falta de mais um filme como foi “Vidas em Jogo” o meu Fincher favorito. Enquanto isso, veremos mais facetas mercadológicas que irão deixá-lo mais próximo do reconhecimento popular americano, que é justamente a premiação que escapou-lhe dos dedos por um triz.

Gus Van Sant e Sean Penn em foto de Milk para Vanity Fair

 

 

Meus palpites para o Oscar

Publicado: 25/02/2011 em Cinema, Cultura

o banner da cerimônia

Filme – A Rede Social
Mas gostaria que fosse Bravura Indômita ou Toy Story 3
Diretor – David Fincher
Estranhamente, acho que seja o único preparado. Este ano tá fraco pra direção. E o Fincher levar isso aqui é de fato como “conjunto da obra”
Roteiro Original – O Discurso do Rei
Mas gostaria que “A Origem” levasse este. Uma das primeiras vezes que defendo o Nolan
Roteiro Adaptado – A Rede Social
Gostaria que BRavura Indômita ganhasse
Ator – Colin Firth
Indiscutível. Único que ameaçaria seria o Bridges que já ganhou a pouco tempo.
Atriz – Natalie Portman
Uma das poucas certezas do Oscar.
Ator Coadjuvante – Christian Bale
Outra posição indiscutivel. Um coadjuvante propositalmente melhor que protagonista.
Atriz Coadjuvante – Melissa Leo
Gostaria que fosse HAilee Steinfeld do Bravura, já que a garota ruleia do começo ao fim do filme. E claro, estranhamente é coadjuvante.
Animação – Toy Story 3
Sabendo que animação ainda não ganha como filme ( o que se rolar este ano, acho uma quebra de paradigma justa, pois Toy 3 é de fato um dos melhores filmes) voto Toy 3 pra animação, mas confesso que tristemente Como Treinar tá quase no mesmo páreo.
Direção de Arte – O discurso do Rei
Posso até votar no “Discurso do Rei” mas quero acreditar que aconteça aqui o que rolou com Sweeney Todd.
Fotografia – Bravura Indômita
Complicadíssimo esta categoria. Talvez uma das mais difíceis. Confesso que tive que entrar no imdb pra lembrar se ele (Deakins) tinha ganho por “No Country” e vi que perdeu pra Sangue Negro. Mas a justiça virá tardia e oo que vai acabar atrapalhando o prêmio para Libatique que era quem deveria ganhar, pois toda estética de Black Swan tem a fotografia como contribuinte.
Figurino – O Discurso do Rei
Fato. Nem “Alice” tiraria.
Documentário – Exit Through the Gift Shop
Tem ganhado respeito lá fora nos premios. Segundo imdb ganhou 7 premios de 9 indicações. Os outros não chegaram perto. E pelo trailer, lembra muita coisa de Borat, JAckass e uma certa dose de sensacionalismo.
Edição – A Rede Social
A edição do Boyle é demarcada por linguagem atual, o que garantiria prêmios, mas como ela é moderna, não agradaria os velhotes da Academia!
Filme Estrangeiro – Biutiful
Gostaria muito que fosse o dinamarques “In a better world”. Mas o xicano tá em crédito com a academia.
Maquiagem – O Lobisomem
A categoria que só vi um filme e aposto nele no escuro.
Trilha Musical – A Rede Social
Sou fã declarado do HAnns Zimmer e A Origem tem parte de seu peso devido a trilha score dele. Pensar que Reznor e Elsey ganhem este não deixa de ser uma ousadia.
Música – We Belong Together (Toy Story 3)
Eu temo perder nesta aposta porque ha alguns anos as animações não tem ganhado prêmios para canção. Mas Toy 3 acaba sendo excessão, já que os outros não abalam muito.
Edição de Som – A Origem
A Alma do filme tá no Som mesmo.
Mixagem de Som – A Origem
Estou me lembrando da “Supremacia Bourne”
Efeito Visual – A Origem
Balançado pelo “Alice”, mas os efeitos de A Origem completam a lógica narrativa e o pensamento de juri de academia que gosta de ver um visual FX mais coo contribuinte de narrativa do que portfolio e potencial de fogo.
Curta – God of Love
Porém, o “The Confession” tem grande potencial pra ganhar devido à beleza estética.
Curta Documentário – Killing in the Name
Foi o que mais gostei nos trailers. O unico concorrente que não pude ver o trailer foi “Poster Girl” e dos que vi, o único que ameaçaria este seria Sun Come Up sobre refugiados climáticos, assunto que torna o filme atual.
Curta Animação – Day & Night
Este vimos no cinema. E creio que justamente por ser cinema de verdade unido à tecnologia, não tem tanto potencial se visto num DVD. O curta de animação mais cinema que tem.

Vamos ver no que dá.

Ao se assitir as obras de Michael Mann, nota-se sua percepção mais apurada pelo genero policial. Até suas raízes na tv, após seus estudos na Europa se baseiam no envolvimento com series policiais: Havai 50, Starsky and Hutch e o piloto de Vega$. Mas o tom que acompanha toos s trabalhos, talvez tenham vindo de “Police Story” com o policial escritor Joseph Wambaugh que fez co que as histórias tivessem confiabilidade e autenticidade policial, pois o realismo impressionou a critica e público.

a antiga série Hawaii 5O

Seu primeiro grande trabalho premiado com Emmy foi The Jericho Mile, que garantiu a ele, uma produção executiva de Miami Vice e Crime Story, e melhor que direção, foi a influência estética que deu as duas series. Apesar de alguns outros filmes de inicio de carreira, é em Manhunter que notamos algumas parcerias nascerem, como com o diretor de fotografia Dante Spinotti. Ler sobre a repercusão de Manhunter na mídia Americana é de se encher os olhos, pois muita gente gabaritada do ramo policial, como William Petersen ( sim, “o cara” do CSI mesmo) elogiando seu trabalho e usando-o como referência para sua própria prospecção cinematografica. Existem outros filmes como “O Último dos Moicanos”, mas me atenho a falar dos filmes policiais, pois escrever sobre seu trabalho aqui é quase uma auto provocação de criar um piper academico sobre a proximidade da Obra de Mann com jornalísmo investigativo policial. Só é uma pena pensar que a proximidade com a estetica televisiva policial, seja da TV norte Americana, pois a nacional se distancia muito de uma realidade cinematográfica.

a antiga série que Mann produzia

Aliás, o nivel de programas policiais no Brasil é tão caricato que José Padilha teve que caricaturar as figures de jornalismo sensacionalista. De volta aos filmes de tom policial, Fogo contra Fogo marcou minha memoria como uma das melhores cenas de tiroteio urbano no cinema.

O memorável encontro de Pacino e De Niro em "Fogo Contra Fogo"

E em todos outros filmes policiais, o clima é sempre tenso: em O Informante, o personagem de Russel Crowe, passa por paranóias depois que ameaça revelar o segredo da empresa tabagista que trabalhou. Toda construção da paranoia, tem um efeito pungente unido à fotografia digital fria de Spinotti.

Al Pacino e Russel Crowe em "O Informante".

E se usar a mise en scene de Mann com o efeito digital, os sucessores: Colateral e Miami Vice cumprem bem o papel. Porem, os dois filmes tem a direção de fotografia de Dion Beebe, provando que Mann seja um dos diretores que mais sabe dialogar e explorar a fotografia digital, ou a direção fotografica que transita com a camera em recursos policiais, nota-se seu estilo na pegada dos filmes.

Tom Cruise e Jamie Foxx em "Collateral"

Lembro-me de várias vezes que sentei em mesas de bar e conversei com amigos criticos e cinéfilos do quão ousado e bonito foi ver em Miami Vice as imagens assumidamente digitais em locais de cena noturna.

Sua última obra, Inimigos Públicos, em que criou a mise en scene perfeita de um filme de época sobre ultimas investidas do gangster John Dillinger, foi pouco comentada, mas poucos observaram o quão ousado novamente mann foi ao preferir manter o digital inclusive para um filme de época. Toda esta idéia de relembrar a obra de Mann, vem como uma espécie de prequel do que ando querendo pesquisar para criar uma publicação para a pós em artes visuais. Um piper que vai criar uma análise comparativa da estética policial dos filmes de Mann com a veia de jornalismo investigativo. Só precisa encontrar o fio condutor para delinear as duas linhas de análise.

Cena de "Inimigos Públicos".

When the Angels Sing…

Publicado: 27/01/2011 em Aleatório

As releituras do passado, do próprio passado, são deveras importante pra utilizar auto critica.  Eu mesmo faço isso.

Ao mesmo tempo me identifico com historias ocorridas com algumas celebridades que gosto muito. Uma delas é Mike Ness, líder do Social Distortion.

Mike Ness, líder do Social Distortion

Uma vez, na galeria do rock, conversei com um lojista chamado André (não lembro de seu sobrenome, tampouco de sua loja) e este me apresentou um pouco da história de uma banda que até então só conhecia músicas. era justamente o Social Distortion, na época do álbum “White Light, White Heat, White Trash” (baixe-o aqui) na qual os membros da banda conversaram com um velho sábio cristão que os levou para um retiro que transformou a banda ao ponto de escreverem letras sobre redenção. Não havia ligação alguma com qualquer tipo de religião, apenas com a reflexão humana de forma cristã. Quem ouvir este excelente álbum, vai entender bem o que quero dizer.

Um dos objetos de decoração no palco de toda apresentação do Social Distortion

Outro que teve um contato com um lado cristão e não ficou chato foi um dos mentores de Mike Ness, o próprio Johnny Cash, que nos deixou claro no Clipe dirigido pelo Romanek e cover do Nine Inch Nails, Hurt.

Uma música e clipe pesados, com clima denso e com repertório convertido pra redenção. Elvis todos nós conhecemos a história e inclusive sua fase gospel, mas esta é outra história.

Encarte de um dos cd´s de Johnny Cash da série "American"

Mas o que me faz querer fazer este post, é a releitura de um texto que Nick Cave fez do evangelho de São Marcos. É legal imaginar a figura soturna de Cave escrevendo sobre algo oriundo de práticas cristãs. O texto é interessante e lendo-o, nota-se a distância da religião, palavra que assusta leitores comuns, dando um tom mais humano, rock n roll e realista desta faceta.

o Cantor Nick Cave

Vamos ao texto de Cave:

Quando comprei meu primeiro exemplar da Bíblia, na versão do rei Jaime, senti-me atraído pelo Antigo Testamento, com se Deus maníaco e punitivo, o qual tratava de Suas punições da humanidade resignada que me deixaram de queixo caído, perplexo diante da profundidade de seu espírito vingativo.

Eu tinha um interesse cada vez maior na literatura violenta, acompanhado de uma noção sem nome da divindade das coisas, e , no início dos meus vinte anos, o Antigo Testamento falava a essa parte de mim que insultava, rosnava e cuspia no mundo. Eu acreditava em Deus, mas também acreditava que Deus era maligno, e, se o Antigo Testamento era Testamento de de alguma coisa, era testamento disso. O mal parecia viver tão próximo da superfície da existência dentro dele que era possível sentir seu hálito exasperado, ver fumaça amarela espiralar de suas inúmeras página, ouvir gemidos de desespero de gelar o sangue. Era um livro maravilhoso, terrível,e era a sagrada escritura.

Mas a gente cresce. Cresce sim. E amadurece. Botões de compaixão irrompementre as rachaduras no solo escuro e cáustico. A raiva deixa de precisar de um nome. A gente já não encontra consolo em observar um Deus pugnaz atormentando uma humanidade desgraçada quando aprende a perdoar a gente mesmo e o mundo. Esse Deus dos tempos antigos começa a se transmutar no coração da gente, metais comuns começam a se transformar em ouro e prata, e a gente se compadece do mundo.

Então um dia conheci um vigário anglicano que me sugeriu que eu desse uma pausa no Antigo Testamento e lesse O Evangelho Segundo Marcos. Eu não tinha lido o Novo Testamento naquele período porque o Novo Testamento era sobre Jesus Cristo e o Cristo de que eu me lembrava da época de menino de coro era aquele indicíduo meloso, todo amoroso e debilitado de que a igreja era sectária. Passei anos da pré-adolescencia cantando no coro da Catedral de Wangarafta e me lembro de pensar, mesmo naquela idade, que essa coisa toda era um bocado rala. A Igreja Anglicana: o culto descafeinado e Jesus era o Senhor.

“Por que Marcos?”, perguntei.

“Porque é curto”, respondeu ele.

Bom, naquela época eu tava disposto a experimentar qualquer coisa, por isso segui o conselho do vigário e li, e O Evangelho Segundo São Marcos simplesmente me arrebatou.

E isso me faz lembrar daquele retrato de Cristo, pintando por Holman Hunt, onde aparece de manto, vistoso, segurando uma lanterna, batendo a uma porta. A porta que se abre para o nosso coração, provavelmente. A luz é a mortiça e manteigosa nas trevas que envolvem tudo.

Obra de Hunt convertida em vitraux

Cristo chegou a mim desse jeito, lumen Christi, com uma luz mortiça, uma luz triste, mas luz suficiente. De todos os textos do Novo Testamento – dos quatro Evangelhos, passando pelos Atos dos Apóstolos e a complexa e persuasiva Epístola de Paulo, até o arrepiante e repugnante Apocalipse – , foi O Evangelho Segundo Marcos que realmente me pegou.

Os estudiosos em geral concordam que o de Marcos foi o primeiro dos quatro Evangelhos a ser escritos. Marcos tirou da boca dos professores e profetas a misturada de acontecimentos em que consistia a vida de Cristo e fixou esses acontecimentos numa espécie de forma biográfica. Fez isso com uma insistência tão ávida, com uma intensidade narrativa tão compulsiva, que nos lembramos de uma criança contando uma história extraordinária, acumulando fato sobre fato, como se o mundo inteiro dependesse dela, da qual evidentemente, para Marcos, dependia. “Logo” e “imediatamente” ligam um acontecimento a outro, todo mundo “corre”, “brada”, fica “admirado”, inflamando a missão de Cristo com uma urgência atordoante. O Evangelho de Marcos é um intrépito de ossos, tão cru, nervoso e parco de informações que a narrativa sofre com uma melancolia da ausência. Cenas de profunda tragédia são tratadas com tal trivialidade e economia rudimentar que quase se tornam palpáveis na desolação desamparada. A narrativa de Marcos começa com o batismo e “imediatamente” somos confrontados com a figura solitária de Cristo, que é batizado no rio Jordão e impelido para o deserto. E lá permaneceu “quarenta dias, sendo tentado por Satanás. Vivia com os animais e os anjos o serviam.”(1:13). Ísso é tudo o que Marcos diz acerca da tentação, mas o versículo é tipicamente vigoroso devido à simplicidade e à parcimônia misteriosa.

Os quarenta dias e as quarenta noites de Cristo no deserto também dizem algo sobre Sua solidão, porque, quando Cristo assume Seu ministério nos arredores da Galiléia e em Jerusalém, Ele entra no deserto da alma, onde toda a efusão de Sua imaginação brilhante, como uma pedra preciosa, é alternadamente mal-entendida, rejeitada, ignorada, escarnecida, aviltada, e , por fim, seria a morte para Ele. Até mesmo Seus discípulos, que, é de se esperar, poderiam absorver um pouco do brilhantismo de Cristo, parecem estar imersos num eterno nevoeiro de equívocos, seguindo Cristo de uma cena para outra, com um mínimo de compreensão, ou nenhuma, do que está acontecendo à volta. Muita frustração e ira que parece às vezes quase consumir Cristo é dirigida a Seus discipulos e é um contraste com a persistente ignorância destes que o isolamento de Cristo parece total. É a inspiração divina de Cristo versus o racionalismo obtuso dos que O rodeiam que confere tensão e impulso à narrativa de Marcos. O abismo de desentendimento é tão vasto que os amigos Dele “saíram para agarrá-lo”, pensando: “Ele está Louco” (3:21). Os escribas e os fariseus, com sua monótona insistência na lei, proporcionam o trampolim perfeito para as luminosas palavras de Cristo. Mesmo aqueles que Cristo cura O atraiçoam, ao correrem para as cidades afim de relatar os feitos do curandeiro milagroso, depois de Cristo insistir que não contassem a ninguém. Cristo renega a própria mãe por não conseguir compreendê-Lo. Ao longo de todo o Evangelho Segundo MArcos, Cristo está num profundo conflito com o mundo que Ele tenta salvar, e o sentimento de solidão que O envolve é às vezes insuportavelmente intenso. O último e longo brado de Cristo na cruz é dirigido a um Deus que Ele acredita tê-Lo abandonado:

Eloí, Eloí, Lamá sabachthani? – Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?

Nick Cave, sempre performático em suas apresentações!

O ritual do Batismo – a morte do eu antigo para renascer – assim como muitos acontecimentos da vida de Cristo, é já temperado metaforicamente pela morte de Cristo e é Sua morte na cruz que consiste em uma força vigorosa e fantasmagórica, principalmente em O Evangelho Segundo Marcos. A preocupação com ela torna-se ainda mais óbvia devido a brevidade com que Marcos trata dos acontecimentos da vida de Cristo. Tem-se a impressão de que praticamente tudo o que Ele faz na narrativa de Marcos é, de algum modo, uma preparação para a Sua morte – a frustração com os discípulos e o medo de que não tenham compreendido o significado pleno de Suas ações, o constante sarcasmo dos oficiais da Igreja, a agitação das multidões, Seus atos miraculosos realizados de tal maneira que as testemunhas irão lembrar-se da extensão de Seu poder divino. Nitidamente, Marcos ocupa-se acima de tudo com a morte de Cristo, de tal modo que Cristo aparece completamente consumido pela morte iminente, inteiramente moldado poSua morte.

O Cristo que emerge de O Evangelho Segundo Marcos, passando pelos eventos casuais de Sua vida, guarda uma intensidade ressonante à qual não pude resistir. Cristo me tocou através de Seu isolamento, através do fardo de Sua morte, através de Sua ira contra o mundano, através de Seu sofrimento. Cristo pareceu-me, foi a vítima da falta de imaginação da humanidade, foi pregado na crus com os pregos da insipidez criativa.

O Evangelho Segundo Marcos continuou a animar minha vida como fonte de minha espiritualidade, minha religiosidade. O Cristo que Igreja nos oferece, o “Salvador” plácido e inanimado – o homem que sorri bondosamente para um grupo de crianças, ou que calma e serenamente pende na cruz -, nega a Cristo Seu sofrimento potente e criativo, ou Sua ira em ebulição que nos confronta energicamente em Marcos. Por conseguinte, a Igreja nega a Cristo Sua humanidade, oferecendo uma figura que talvez possamos “louvar”, mas que não nos diz respeito.

A humanidade essencial do Cristo de Marcos nos proporciona um modelo para nossa própria vida, de modo que temos algo a que aspirar, não reverenciar, que possa nos libertar da mundanidade de nossa existência, não afirmar a noção de que somos inferiore e ignóbeis. O mero louvor a Cristo e Sua Perfeição mantém-nos de joelhos, de cabeça compassivamente baixa.

Sem dúvida não era nisso que Cristo pensava. Cristo veio como libertador. Cristo entendeu que nós, enquanto humanos, estamos para sempre presos ao chão pela atração da gravidade – nossa vulgaridade, nossa mediocridade – e foi por meio de Seu exemplo que Ele deu a nossa imaginação a liberdade de elevar-se e alçar vôo.

Em resumo, ser como Cristo!

Cultura Custom

Publicado: 13/01/2011 em Cultura, Dicas, Motocicletas

Existe uma proximidade muito grande quando chamamos o cinema de “cinema de autor” com o trabalho de customização para carros, motos ou qualquer tipo de veículo. E este universo automotivo vem acompanhado de um bônus da atmosfera que todos que gostam e abraçam, chamam de estilo de vida. A quem já foi numa feira de Cultura Custom entende bem. Nota-se carros, motos, bicicletas customizados em benefício do dono. E existe também, tatuadores, lojas de roupa, acessórios para automóvel ou para casa que de certa forma, dão o ar da graça para uma padronização do ambiente.

HD Deluxe customizada pelo Garage Code Motorcycles - SP

Menos peso para receptividade da massa, pois existem programas que ajudam muito pra isso: Los Angeles e Miami Ink que mostram a desmistificação da tatuagem que até décadas atrás era tido como obra de marginais e presidiários. Ou o programa American Chopper que demonstra como uma moto pode ser construída ou de carcaças ou a partir de uma nova mesmo. Aí nascem as vertentes New School e Old School que tanto vemos em qualquer tipo de cultura de carros, motos, tattoos , pinturas e por aí vai. O importante aqui seria sempre a partir dos punhos, se criar ou redefinir desenhos para customização de tanques, peles, quadros entre outros objetos.

A arte em sim, tem um intuito muito interessante de laços afetivos, pois quando um artista customiza, quer imprimir sua marca no objeto. Aos que de fora olham, entendem esta particularidade da criação e dono, porém, existe o terceiro elemento que se inclui nesta apreciação na qual criatura e dono foram beneficiados: o criador. Alguém vê a obra criada e pergunta se foi fruto de tal criador. A compreensão da obra é dupla: por ser conivente como universo que este (caso traga tatuagem ou moto, por exemplo) venha demonstrar e com o traçado de tal artista.

As feiras custom ficaram muito famosas na Califórnia, onde muitos imigrantes latinos ganhavam carros sucateados e iam reformando e comprando peças em desmanches até reformar o carro todo. No Brasil isso complica muito, pois o Detran ainda não reconhece esta nova classe de customizadores que atrapalham-se em padronizar cores ou motores re aproveitados de leilão ou depósitos.

Eu e Carol na feira Hot Style da Hot Rod Brasil no ABC

A classe tem crescido de forma avassaladora no Brasil com ajuda de Organizações como o Hot Rod Brasil que faz eventos em todo Brasil. Com o aumento e apreciação em maior escala desta cultura, nascem lojas que acompanham e se atualizam para atender aos gostos. E aos desavisados, temos estas lojas em São Paulo que percorrem desde o lado centro até os jardins. No centro,  na Galeria Ouro Velho temos a Barbearia 9 de Julho, criada aos moldes das barbearias da década de 40 e 50 onde os homens achavam ali, seu subterfúgio para o momento masculino de revelações, apostas e debates. Quem for visitar a Barbearia, vai estar aos cuidados de Tiago Secco e Anderson Nápolis. Vale lembrar do produto de fabricação própria, a pomada para modelar cabelos Slick.

Barbearia 9 de Julho

Nos jardins, na Galeria Ouro Fino temos a Breaknecks, loja especializada em vendas de roupas, objetos de decoração entre outras memorabílias da cultura Custom. O proprietário, Ricardo Faria, viveu alguns anos na Europa e chegou ao Brasil em 2009 para criar sua loja. A loja serve até como point a ponto de se distrair horas a fio com tantos objetos por lá. Outra loja que fecha o ciclo da pesquisa de épocas e segmentada em vendas é a Aloha Café Surf de Isabela Casalino, garota especialista em cultura vintage, em especial da cultura Tiki que muitos chamam de havaiano. Conversar com Isabela é ter uma aula do que seria cultura Tiki, mas isso se descobre ao manter contato com a loja.

Fachada da loja Breaknecks na Galeria Ouro Fino - SP

O ambiente acolhedor da loja Breaknecks

Roupas, livros e demais artigos da cultura custom

Top 20: Melhores Filmes de 2010

Publicado: 03/01/2011 em Cinema

Às vezes temo que meus blogs que abro e fecho tendem a mergulhar em listas de favoritos. E o pior é que quando me desanimo a escrever, acaba escapando nas reanimadas dele apenas as listas de melhores.

Só que desta vez, espero embalar este blog inicial, que na verdade é continuação do falecido Fotograma Experimental (hospedado no zip.net), devido ao fato de estar escrevendo minha dissertação de mestrado que quero colocar aqui o diário do dia a dia e seu progresso.

Porém, o mais irônico fato, é que conversando com amigos blogueiros, este ano não me empolgou muito cinematograficamente. Sempre me lembrava de filmes que lamentava não entrar nos 30 melhores do ano. Este ano, porém, estou me vendo na situação de empurrar alguns filmes por generosidade numa lista de 20 filmes.

Segue a lista:

1) Machete (2010, idem) de Robert Rodriguez

O cinema de Rodriguez sempre caminhou pra uma retórica de paródia e política sem limites. Desta vez, tem muito mais território conivente ao teu universo. Além de uma espécie de prêmio que Danny Trejo merecia!

2) À Prova de Morte (2007, Deathproof) de Quentin Tarantino

Com quase 2 anos de atraso chega a outra parte do Grindhouse que faz pastiche dos filmes de V8 e de novo um mote de vingança. Quando o vi na mostra, não me chamou atenção muito. Na releitura, cresceu muito pra mim.

3) Vincere (2009, idem) de Marco Bellocchio

O diretor já havia me chamado atenção com seus filmes anteriores como Bom dia, noite e a hora da religião. Vincere pode não ser melhor que os anteriores, mas garante sua colocação como um dos melhores do ano.

4) A Ilha dos Mortos (2009, Survival of the Dead) de George A. Romero

Os filmes de Romero de uns tempos pra cá tem caído no interesse das distribuidoras. Eu jamais acho que a formula se esgote. E acho incrível como podem reverenciar “The Walking Dead” (que é apenas legal) e deixar um excelente filme destes passar batido.

5) Vício Frenético (2009, Bad Lieutenant: Port of Call New Orleans) de Werner Herzog

Um dos filmes que já havia entrado na lista de melhores dos anos anteriores, mas garante seu lugar devido a uma lista de respeito de estréias em cinema no território nacional.

6) Toy Story 3 (2010, idem) de Lee Unkrich

A franquia já era uma das minhas favoritas e se tratando da transição e amadurecimento, tal qual o que passei quando abandonei minhas actions figures, o filme acerta em cheio na sensibilidade que desconfiava não existir mais.

7) O Escritor Fantasma (2010, The Ghost Writer) de Roman Polanski

Ao assistir me pareceu uma recolocação de “O Inquilino” para uma atmosfera mais política. McGregor porém, deu um toque semelhante ao que Johnny Depp fez com o “O Sétimo Portal”. Polanski ainda me impressiona em climas tensos.

8 ) Tropa de Elite 2 (2010, Idem) de José Padilha

Todos os defeitos do primeiro filme, meio que se justificam neste segundo que segura a tensão com menos ação e mais jogadas políticas na qual mais uma vez, Padilha escreve a história à frente de seu tempo e por involuntariedade acerta no escuro.

9) Invictus (2009, idem) de Clint Eastwood

O único diretor que me faz crer que Matt Damon atua muito bem. O painel de fundo do jogo, é uma política que se torna potente pelas mãos de um Mandella muito bem encarnado.

10) Os Outros Caras (2010, The Other Guys) de Adam McKey

Campeão de fazer comédias desgovernadas em que quem lesse o roteiro e assistisse o filme, sentiria uma discrepância de texto e imagem complementada pelo improviso de Will Ferrell.

11) Como Treinar seu Dragão (2010, How to Train your Dragon) de Dean Deblois & Chris Sanders

Mais premissas de amadurecimento através de provas, só que nesta vez, escandinavas. Existe algo neste filme sobre danos e marcas profundas de amadurecimento que me lembram Ponte para Terabitia.

12) Ponyo – Uma Amizade que Veio do Mar (2008, Ponyo) de Hayao Miyazaki

O garoto que conseguiu fazer um peixe que salvou, se tornar sua amiga numa fuga de um feiticeiro do mar. Profundidade dramática e grafismos incríveis com dimensão de campo mesmo que pareça uma imagem chapada.

13) Kick Ass  – Quebrando Tudo (2010, Kick Ass) de Matthew Vaughn

Sabe aquela frase do Homem Aranha de que superpoderes requer mais responsabilidade? Aqui no Kick Ass, não precisa dos superpoderes, mas apenas da postura diferente que acaba exigindo mais responsabilidade e conseqüências que viriam. Um filme que me impressionou por conta dos mesmos danos físicos que os “heróis” recebem.

14) Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010, Scott Pillgrim vs. The World) de Edgar Wright

Quando li que o diretor faria uma adaptação de HQ, eu temia que nisso fizesse uma erupção de grafismos no filme que me incomodaria igual me incomodou no “Caçadores de vampiras lésbicas” que me irritou muito. Mas me surpreendi com a direção segura, embora os grafismos ainda me irrite um pouco.

15) A Origem (2010, The Inception) de Christopher Nolan

Sou um cara que não me dou muito bem com o Nolan. Me irrito com seus fãs, mas tolero e assumo gostar de “O Grande Truque” na qual dou uma nota ótima. Algumas deficiências do cinema dele ainda continuam como lapidar pouco os personagens antes de jogá-los numa tempestade, mas no caso de A Origem, isso me incomodou menos, já que os personagens necessários se abriam no decorrer do filme. Assim, dei o braço a torcer de novo.

16) Ilha do Medo (2010,  Shutter Island) de Martin Scorsese

De novo Di Caprio com crises existenciais por causa do seu passado conjugal (preferi falar agora do que no A Origem) e me impressiona a qualidade pictórica do filme. O que me desagrada é este caminho pasteurizado que o cinema do Scorsese caminhava e me certifiquei que é momentâneo graças ao excelente piloto de Boardwalk Empire, que mostrou que Scorsese continua sim o mesmo.

17)  Harry Potter e as Relíquias da Morte:  parte 1 (2010, Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 1) de David Yates

Por mais que prefira a primeira direção de Yates nesta franquia, a densidade deste filme, ou melhor, a densidade a cada filme é o que mais me impressiona. A adaptação tem tido sucesso ao demonstrar o amadurecimento do personagem e seu peso do fardo com um inimigo na cola ficando poderoso a cada investida.

18) A Estrada (2009, The Road) de John Hillcoat

Desde que se envolveu com Nick Cave em seus clipes, tenho acompanhado os longas deste diretor. Ainda acho que o melhor dele é o western sujo australiano “A Proposta”, só que o clima de fim de mundo que The Road personifica é desesperador. Pai e filho me lembram os mangas do lobo solitário, e o cima pós hecatombe reforça o peso dramático e ambientação co a música do gênio Warren Elis e o próprio Nick Cave.

19)  O Cisne Negro (2010, The Black Swan) de Darren Aronofsky

O Lutador, na minha opinião,  comprovou o quanto Aronofsky sabia dirigir, mas escondia o ouro. Suas obsessões de demonstrar as peles dilaceradas continuam neste thriller num filme de balet, e justamente esta premissa que me impressiona. Se alguém lesse isso, poderia até achar que seu cinema caminha pra um rumo totalmente Cronenberguiano, mas não era pra este caminho que me referia. Claro que este filme se repetirá ano que vem nas listas, acompanhando a lógica de estréias do Brasil, mas coloco ele de novo co nova leitura se necessário.

20) Tudo Pode dar Certo (2009, Whatever Works) de Woody Allen

De volta ao território americano, Woody poderia se tornar um cara chato em seu cinema, como quem volta de viagem aborrecido. E de fato, alguns amigos acham que o relacionamento do protagonista e a garota que se instala na sua casa seja o tal aborrecimento do diretor, mas a complexidade do protagonista na pele de Larry David é o que mais faz o filme crescer. E temos o recente filme do Allen Europeu que demonstrou que Europa não era bem a fórmula de sucesso.

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É bem capaz que eu tenha esquecido de algum filme e volte com todo arrependimento possível, fazendo um post dos esquecidos. Mas por enquanto são esses os lembrados e vistos.

Desejo a todos um ótimo 2011, repleto de realizações e cinefilia!